Todos os dias, todos os meses, todos os anos
em cada minuto, cada segundo, cada hora
sem desvios, novidades, ou enganos
que a rotina nos impõe, pela vida fora.
O cansaço, o tédio ou a revolta
se esvaem num leve açoite de memória
que logo se amordaça, vai e volta
todos os dias, todos os meses, a mesma história.
O hábito, esse espartilho, esse embaraço
feito de gestos já impressos na vontade
é como grade, de indiferente e duro aço
que o desejo, nasce e morre, mas não arde.
Mário Margaride