O inverno chega como quem sussurra
não pede licença, apenas se instala
entre o frio que aperta e a luz que escorre
traz um tempo próprio, que tudo abala
Há virtude na brancura que desacelera
no sopro gelado que obriga a parar
como se o mundo inteiro, por inteira era
pedisse um instante só para respirar
Mas há também a sua estranha densidade
o peso das manhãs que custam a nascer
a sombra que cresce na tarde que invade
e a alma que aprende outro modo de ver
No entanto, é justamente nessa contradição
que o inverno tece o seu mais belo sentido
ensina-nos força ao provar a contenção
e revela calor no que antes era esquecido
O inverno é ciclo, pausa e resistência
é abraço guardado, chá quente, espera
é lembrança viva de que a existência
também floresce na estação austera.
Mário Margaride
Feliz fim de semana!
Beijos e abraços!
Es un recordatorio vivo de que la existencia
ResponderEliminartambién florece en la estación austera. ¡Me encanta, Mario! Una poesía muy bonita.
Un abrazo y buen día.
También hay una nueva entrada en mi blog.
Um poema que tece o frío do inverno com uma linguagem de espera e resistência. O inverno aqui não é apenas uma estação; é um estado de pausa que revela a força que mora no quieto. A imagem do “chá quente” funciona como um ritual de cuidado, um abrigo íntimo diante da aridez externa. O “abraço guardado” sugere afecto contido, capaz de sustentar sem necessidade de manifestação imediata, enquanto a espera se transforma em forma de presença. A repetição de elementos sensoriais — calor, cheiro, toque — confere ao poema uma musicalidade contida, quase sussurrada, que contrasta com a dureza da estação. Ao dizer que a existência “também floresce na estação austera”, o poema reconhece a vida em plena densidade: resiliência que não cede ao vazio, mas, ao contrário, encontra possibilidade de beleza e renovação mesmo sob o frio. A linha final actua como epílogo suave, apontando que a natureza humana também brota da reserva, da paciência, do tempo que se faz lento para que o essencial possa emergir. É um convite à contemplação serena, onde a resistência não é obstinação, mas uma forma de cuidado consigo e com o mundo.
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