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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

INVERNO, MESTRE DE SILÊNCIOS


O inverno chega como quem sussurra

não pede licença, apenas se instala

entre o frio que aperta e a luz que escorre

traz um tempo próprio, que tudo abala


Há virtude na brancura que desacelera

no sopro gelado que obriga a parar

como se o mundo inteiro, por inteira era

pedisse um instante só para respirar


Mas há também a sua estranha densidade

o peso das manhãs que custam a nascer

a sombra que cresce na tarde que invade

e a alma que aprende outro modo de ver


No entanto, é justamente nessa contradição

que o inverno tece o seu mais belo sentido

ensina-nos força ao provar a contenção

e revela calor no que antes era esquecido


O inverno é ciclo, pausa e resistência

é abraço guardado, chá quente, espera

é lembrança viva de que a existência

também floresce na estação austera.


Mário Margaride
Feliz fim de semana!

Beijos e abraços!

2 comentários:

  1. Es un recordatorio vivo de que la existencia
    también florece en la estación austera. ¡Me encanta, Mario! Una poesía muy bonita.
    Un abrazo y buen día.
    También hay una nueva entrada en mi blog.



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  2. Um poema que tece o frío do inverno com uma linguagem de espera e resistência. O inverno aqui não é apenas uma estação; é um estado de pausa que revela a força que mora no quieto. A imagem do “chá quente” funciona como um ritual de cuidado, um abrigo íntimo diante da aridez externa. O “abraço guardado” sugere afecto contido, capaz de sustentar sem necessidade de manifestação imediata, enquanto a espera se transforma em forma de presença. A repetição de elementos sensoriais — calor, cheiro, toque — confere ao poema uma musicalidade contida, quase sussurrada, que contrasta com a dureza da estação. Ao dizer que a existência “também floresce na estação austera”, o poema reconhece a vida em plena densidade: resiliência que não cede ao vazio, mas, ao contrário, encontra possibilidade de beleza e renovação mesmo sob o frio. A linha final actua como epílogo suave, apontando que a natureza humana também brota da reserva, da paciência, do tempo que se faz lento para que o essencial possa emergir. É um convite à contemplação serena, onde a resistência não é obstinação, mas uma forma de cuidado consigo e com o mundo.

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