Nos escombros da civilização
os abutres vasculham os despojos
lambuzando os restos nauseabundos
no chão negro da desolação
O silêncio sufoca a dor
e o grito emerge pungente
da penumbra da escuridão
onde a indiferença sorri
em todo o seu esplendor
Nesta asfixia repugnante
onde a impotência é atroz
jaz no chão moribundo
o grito impotente
da nossa indignação.
Mário Margaride
27-09-2025
Dizes que me amas
mas o silêncio entre as palavras
pesa mais do que o som delas
Toques leves
como promessas feitas com medo
olhares que se desviam
quando a verdade ameaça cair dos olhos
Amamo-nos como quem se defende
beijos com gosto de dúvida
abraços que apertam
e afastam ao mesmo tempo
Queremos a presença
mas suspiramos alívio na ausência
Dizes que és livre
mas pedes que eu não voe
Eu digo que entendo
mas guardo perguntas debaixo da língua
É amor? Talvez
ou o nome que damos ao que resta
quando o desejo e o medo
dividem a mesma cama
Construímos pontes com palavras que não sustentam peso
e esperamos que suportem a travessia
Há ternura, sim
mas também há cansaço
aquele que vem de caminhar em círculos
à procura de um centro que já não existe
E mesmo assim, ficamos
por hábito
por afeto
por não saber recomeçar
Ou porque, no fundo
o amor também é isto
um enigma sem solução
mas com laços que ainda sabem apertar o peito
do lado escondido de dentro.
Mário Margaride
08-08-2025
Beijos e abraços!
Ah, as palavras
que são a voz das emoções
e por vezes são tão singelas
mas pintam cores e alegria
e esvoaçam pelas janelas
Ah, as palavras
transportando a nossa dor
a alegria, a ternura, o amor
que as vão tornando mais belas
Ah, as palavras
caladas dentro de nós
mas como se fosse magia
lhes damos forma e voz...
e assim nasce a poesia.
Mário Margaride
Ignorância é bruma que dança no peito
é rio parado, sem fonte, sem mar
um véu que se estende sem cor nem respeito
onde o homem se afoga sem mesmo notar
É canto sem voz, é palavra vazia
é sonho que dorme num leito fechado
é noite que cala a luz do dia
é alma que vive num corpo trancado
Ela veste o orgulho com manto de rei
afasta o olhar do que pode ser belo
e faz do silêncio um grito sem lei
e pinta o mundo num tom amarelo
Mas há no fundo um sopro, um clarão
pois mesmo na sombra, o saber insiste
um fio de luz, uma inquietação
como flor que brota onde nada resiste.
Mário Margaride
15-09-2025
Não sei o que o mundo pensa
neste momento presente
onde a escuridão se traduz
na perdição desmedida
onde a vida anda perdida
nos escombros da desgraça
nos mares da desilusão
Não sei o que o mundo quer hoje
nem o que vai querer amanhã
neste imenso turbilhão
onde navegamos por mares revoltos
labirintos sem ter fim
onde as convulsões são tamanhas
que nos atiram ao chão
Não sei
o que o mundo tem para dizer
quero apenas prosseguir
mesmo sem saber para onde ir
neste turbilhão de emoções
Neste labirinto sem fim
seguirei os meus sentidos
sem receio nem motivos
para continuar viagem
neste universo complexo
onde estamos de passagem.
Mário Margaride
14-09-2025
Na fornalha da ignorância
o ódio e a inveja se misturam
com promessas não cumpridas
e a burrice arde em lume brando
A estupidez, medida em doses
a mentira, em várias partes
untadas com indiferença
assam no forno da intolerância
Mas quebraremos esse ciclo
com paciência e sabedoria
cultivando o amor e o perdão
para que a luz da compreensão prevaleça
Que a nossa voz silenciosa da tolerância
seja mais alta que os gritos da discórdia
e que o coração humano, abismo esfaimado
encontre a paz na aceitação mútua.
Mário Margaride
Beijos e abraços!
Folhas dançam no ar, em tom de despedida
o vento sussurra segredos antigos
veste-se de ouro, de cobre, de vida
nas árvores nuas, em ramos amigos
O céu se tinge de um cinza sereno
há paz no silêncio que a estação traz
como se o tempo parasse, pequeno
num ritmo lento, num mundo de paz
Castanhas estalam no fogo a crepitar
caminhos se enchem de folhas caídas
memórias aquecem, começam a falar
como cartas do tempo, histórias vividas
O sol, mais baixo, sorri com doçura
o coração treme, em suave torpor
pintando de âmbar cada fissura
acolhe o outono, em todo o seu esplendor.
Mário Margaride
As palavras fluem como vagas
no mar dos sonhos perdidos
Partículas silenciosas
que vagueiam nas margens de mim
como se fossem vento
Nunca se calam
aguardam silenciosamente que as façam falar
Sussurrando em silêncio
correm nas veias do meu sentir
esperando que o dique das minhas emoções
se abra, para poderem desaguar
livre e suavemente
nas águas da liberdade.
Mário Margaride
30-08-2025
