Nas veredas escuras, incolores
onde a dor se ouve sem se ouvir
os passos são silêncios que não gritam
na penumbra onde sussurram as vozes
que escondem os lamentos que não falam
Correm águas pestilentas pelo chão
o cheiro nauseabundo se instala
pintando de tons cinzentos a ironia
daqueles que sofrem em silêncio
nas veredas onde mora a frustração.
Mário Margaride
27-11-2025
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Sentei-me...
no outro lado de mim
o outro lado
onde não costumamos olhar
não ligamos importância
passa ao lado de nós
como se não existisse
como se fôssemos apenas um…
Mas esse lado
o outro lado de nós
é aí que reside
toda a nossa essência
toda a consciência de nós
Que nos faz refletir
nas nossas interrogações
nas nossas duvidas
nas nossas inquietações
em toda a nossa caminhada
em todo o nosso percurso
neste universo complexo
na nossa efémera existência
Hoje sentei-me
no outro lado de mim.
Mário Margaride
Quando o sucesso do outro brilha
e reflete no peito uma sombra estranha
causando uma sensação tamanha
que às vezes fere mais do que ilumina
A inveja nasce miúda
como um grão de areia no sapato da alma
que cresce e floresce se não vigiamos
transformando o nosso olhar em peso
e o coração em enorme frustração
Esquecemos o nosso tempo
o ritmo secreto das nossas flores
e passamos a medir a nossa vida
com a régua que não nos serve
E assim ficamos mais pobres
não porque o outro venceu
mas porque deixamos de ver
o que tínhamos em nós para singrar
Até que um dia percebemos
que a luz deles não apaga a nossa
a não ser que a deixemos morrer dentro de nós
por não sabermos esperar.
Mário Margaride
Beijos e abraços!
A liberdade
nasce em silêncio
num sopro tímido, quase arisco
como quem teme ser descoberta
pelos guardiões das masmorras
Abre trilhos em terreno incerto
ferindo os pés de quem ousa segui-la
e cada curva que circunda
ensina que avançar
é um verbo cheio de vertigens
Não há mapa para o que ela exige
há só restos de bússolas partidas
e o brilho breve de estrelas
que mudam de lugar
quando ousamos confiar demais
Sustentá-la é trabalho de artesão
uma costura feita à luz fraca
com linhas que se rompem
a cada instante
nesta caminhada difícil e frágil
Pois ser livre é segurar o vento
sem tentar prendê-lo
e mesmo assim não soltá-lo
quando sopra contra nós
E quem caminha por ela, descobre
que a liberdade não é a chegada
mas a constante reconstrução
da coragem de continuar.
Mário Margaride
15-11-2025
O sol beijou a praia
onde descansa a solidão
Cansada de estar sozinha
saiu pela manhãzinha
para alegrar o coração
Sentada à beira mar
olhando o horizonte imponente
a solidão vai sonhando
um dia ficar contente
Tem um sonho a solidão
de encontrar a companhia
que a sua alma padece
E se esse dia chegar
então suspirará de alegria
e a solidão desaparece...
Mário Margaride
14-11-2025
No silêncio das manhãs
onde a vida ainda canta
o sol desperta, se renova
com a força que encanta
Cada dia é um recomeço
uma nova estação
fortalecido pela luta
pela constante paixão
Só com amor a vida faz sentido
neste mundo onde a incerteza é uma constante
com laivos de desprezo e solidão
E por mais que o ódio escorra
pelas paredes sujas da inveja
e da incompreensão
o tempo nos prova
o que é com amor, solidariedade
amizade e compreensão
que a humanidade se fortalece
e se renova
Não há distância ou dor
que o faça retroceder
pois é feito de força
cumplicidade e de querer
Se assim seguirmos em uníssono
a vida tem outro sentido
outro sabor
e assim o amor nos fortalece
com todo o seu esplendor.
Mário Margaride
09-11-2025
Quando olho para dentro de mim
ouço atentamente o que o meu eu me diz
escuto com atenção as suas palavras
os seus conselhos
o seu sentir
as suas emoções
Tem sempre algo de novo a dizer-me
aquilo que nem sempre dou atenção
ou importância
O meu eu
é testemunha da minha essência
do meu comportamento
das minhas incertezas
das minhas alegrias
das minhas fragilidades
das minhas contradições
Das atitudes que tomei
das escolhas que fiz
das estradas por onde andei
Por isso
é bom ouvir a sua voz
os seus conselhos
sempre sábios e inspiradores
Essa voz atenta
tem sempre coisas importantes
para me dizer.
Mário Margaride
03-11-2025
Nesta espécie de poema
que me lembrei de escrever
de poema não tem nada
são palavras para esquecer
São dias em que inércia
está sentadinha a descansar
nada deixando sair
do preguiçoso pensar
De brilhante nada sai
há um vazio nestas bandas
as criações estão de férias
espreguiçando nas varandas
Nesta espécie de poema
como podem descobrir
nada de jeito se escreve
apenas uns parvos rabiscos
parecendo flocos de neve
do frio que está por vir.
Mário Margaride
