O amor já não mora aqui
houve um tempo em que o silêncio era conforto
agora é peso
As palavras continuam
mas perderam o que as fazia falar verdade
Dizem coisas por hábito
como quem assina papéis sem ler
Os gestos seguem
o beijo, o abraço,
o “como foi o teu dia”?
Mas tudo soa ensaiado
como atores que já decoraram o texto
mas esqueceram a essência da peça
Não há raiva
há uma calma estranha
de quem aceitou a ausência como companhia
Vivem lado a lado
mas estão ausentes
Dividem o mesmo espaço
mas são estranhos na mesma casa
Não foi de repente
o amor foi deixando bilhetes de despedida
em olhares desviados
em toques que não pediam mais nada
Agora só resta a ilusão
a triste fachada.
Mário Margaride