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domingo, 13 de abril de 2025

GRITOS SILENCIOSOS

 

Junto ao rio da indiferença

onde mergulha a desilusão

estava deitada a quimera

ao pé da inquietação

 

Junto ao vale do infortúnio

sentada em pose de musa

estava a tristeza, coitada!

sozinha, muito confusa

 

Ao lado, estava o lamento

trazendo o amor que fenece

de olhos semicerrados

pousando os braços cansados

sobre os joelhos em prece

 

Por fim, lá estava a agonia

com a alma a sangrar

deitada sobre um manto

sufocada em mudo pranto

sem vontade de chorar…

 

Mário Margaride


sexta-feira, 11 de abril de 2025

SERÁ QUE A CULPA É DA HIPNOSE?


Não sei o que o tempo diz

nem tão pouco se a chuva cai

nem se o mar engole o rio

nem se o frio aquece o ar

 

Se calhar é mesmo o mundo

que gira sempre ao contrário

 

Ou talvez sejamos nós

que pensando tão à frente

e enchemos a barriga

de gazes efeito estufa

sem ligarmos patavina

ao ar que não respiramos

por tão entretidos que andamos

com filmes a preto e branco

que nos fazem engolir

 

E doravante cá vamos

andando adormecidos

nesta enorme pasmaceira

sem ter vontade de rir

hipnotizados que estamos

nesta  enorme histeria

 

E em vez de darmos murros na mesa

por andarmos intoxicados

com as dozes de ignorância

que nos servem dia a dia

sem sequer pestanejarmos

vamos assobiando para o lado

vendo o comboio a passar

 

Será que a hipnose

nos atingiu por tabela?

ou nos puseram no mar

a andar de barco à vela?

 

Mário Margaride

25-04-2025

Feliz fim de semana!

Beijos e abraços!

domingo, 6 de abril de 2025

ESTE MISTÉRIO

 

Este corpo

que cobre todo o meu ser

que me exige e faz sentir

coisas que nem sempre entendo...

 

Esta mente

que muitas vezes é surda

e não ouve o que lhe digo

e insiste teimosamente

em deixar-me constrangido

perante o que vou vivendo...

 

É um dilema…

que sempre me acompanhou

 

É um mistério

que terei que aceitar

sem poder explicar

nem sequer compreender

 

Agora, só tento conciliar

ou até, minimizar

a singular discrepância

 

Uns dirão, que foi um ser divino

que nos traçou tal destino

e que temos que aceitar

este total desatino

sem nada reclamar

 

Não aceito, não senhor!

ser mandado, por um tal ser divinal

que nunca vi nem conheço

que nos controla e comanda

como se fossemos robôs 

não, não aceito

 

Tenho corpo e tenho mente

que vivem, constantemente

em desacordo total

 é verdade


Mesmo neste labirinto

não entendendo o que sinto…

serei sempre eu, no final.

 

Mário Margaride


sexta-feira, 4 de abril de 2025

A INCONGRUÊNCIA HUMANA

 

Entre luz e sombra

dançamos numa indefinição sem fim

carregamos no peito

um querer tão mesquinho

amamos o eterno

mas tememos o instante

sonhamos com o longe

e desprezamos o distante

 

Embora a razão nos guie

a paixão nos confunde

por vezes o silêncio é tudo

mas o grito nos ilude

 

Buscamos virtude

tropeçamos na vaidade

mas entre o bem e o mal

desenha-se a humanidade

 

Corremos atrás do que nunca se prende

guardamos riquezas que o tempo desfaz

tememos o vazio

vagueamos num vácuo de escolhas

somos eternos vultos

mergulhados numa enorme indefinição

 

Eis o paradoxo do ser humano que somos

fragmentado, intenso, perdido

mas livre nas suas escolhas

um mar de contrastes

sedentos de claridade.

 

Mário Margaride

29-03-2025

Feliz fim de semana!

Beijos e abraços!

domingo, 30 de março de 2025

OS PASSOS DA NOITE


Observo os passos da noite

na sua absorvente e longa caminhada

que nos envolve e nos abraça

no seu inebriante sono

tomando conta da nossa mente

nos embriaga

no torpor dos seus sonhos

indecifráveis

 

Os seus passos cadenciados

marcam o compasso

do nosso adormecer

 nas madrugadas incolores

que abrem as portas semicerradas

do nosso sobressaltado

alvorecer

 

Silêncio branco

na noite escura de breu

onde a mente se apaga

no tumultuoso sonho

que a invade

como um enorme manto de neve

gelando todos os sentidos

cristalizando as emoções

 

A noite se despede

com um brilho ofuscado

na face enregelada

do sonho que não sonhou

do corpo que não dorme

num compasso descompassado

onde a noite acorda

do silêncio dos seus passos.

 

Mário Margaride