Idealizamos o leitor perfeito
infinitamente melhor
superior a nós
nas nossas leituras interiores.
Para ele escrevemos
mesmo que seja uma utopia
que não exista.
É impossível deixar de sentir
que se esconde entre o silêncio
onde moram as palavras
no universo das emoções.
Talvez ao insistirmos
neste exercício solitário
de construir palavras
por vezes indecifráveis
o leitor que imaginamos
acorde nalgum momento
mas nessa altura
já não é necessário
porque afinal
as palavras se leem a si próprias.
Mário Margaride